Salve 4 de Janeiro! (Por Antonio Muniz)


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Em 4 de janeiro, comemora-se o Dia Mundial do Braille. A data, que passou a ser reconhecida a partir de 2018, foi instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU em homenagem ao nascimento de Louis Braille, que aos 15 anos criou o sistema de escrita e leitura em relevo para as pessoas cegas e/ou com baixa visão, conhecido por método Braille.
Esta celebração também relembra a importância de se assegurar formas de incluir estas pessoas no acesso aos livros e também na escrita já que, segundo a União Mundial de Cegos – UMC, apenas 5% dos livros em todo o mundo são transcritos para o Braille. Esse número cai para 1% em países mais pobres.

Quem foi Louis Braille
Louis Braille foi um educador e inventor francês que criou um sistema de leitura e escrita em relevo destinado a pessoas cegas e/ou com baixa visão. Ele nasceu em 4 de janeiro de 1809 em Coupvray, uma pequena cidade perto de Paris, e ficou cego aos três anos de idade após um acidente na oficina de seu pai, que trabalhava manufaturando artefatos de couro.

Leitura e escrita
Louis Braille demonstrou grande inteligência e aptidão para os estudos, especialmente para a música. Aos dez anos, obteve uma bolsa de estudos no Real Instituto dos Jovens Cegos de Paris, a primeira escola para cegos do mundo.
Aprendeu a ler com os livros produzidos com base no sistema de Valentin Haüy, que consistia em letras convencionais grandes em alto-relevo, dispostas em folhas de latão. No entanto, esse método era limitado e não permitia a escrita.
Em 1821, ele conheceu Charles Barbier, um capitão reformado do exército francês que havia desenvolvido um sistema de comunicação noturna baseado em pontos em relevo, chamado de escrita noturna ou sonografia. Barbier queria adaptar seu sistema para a educação dos cegos, mas encontrou resistência dos professores do instituto, que preferiam o método de Haüy.

Sistema Braille
Luís Braille ficou fascinado com a ideia de Barbier e começou a trabalhar na simplificação e aperfeiçoamento de seu sistema. Reduziu o número de pontos de cada símbolo, de doze para seis, organizados em duas colunas de três pontos cada, e criou um código alfabético, numérico e musical.
A escrita braille é obtida, utilizando-se uma ferramenta chamada reglete, espécie de régua com duas ou mais linhas, formada por duas peças metálicas ou plásticas, ligadas por uma dobradiça. A peça de cima contém diversos orifícios no formato retangular, enquanto que a de baixo contém, além de alguns pinos, diversas linhas, todas com orifícios correspondentes aos da primeira peça, só que não vazados, também no formato da cela Braille. Entre elas, é presa uma folha de papel no formato 40 kg, onde, com o auxílio do punção, instrumento pontiagudo, se perfura o papel, obtendo-se desta forma os símbolos em relevo. Para ler, as pessoas cegas e/ou com baixa visão usam o tato, passando os dedos sobre os pontos em relevo.
Em 1824, aos quinze anos, Louis Braille apresentou seu sistema aos colegas e professores do instituto, que o adotaram com entusiasmo. Em 1825, publicou a primeira edição do Sistema Braille, sendo a segunda e última edição publicada em 1837, que permanece inalterada.
Mesmo assim, o Sistema Braille não foi reconhecido oficialmente pelo governo francês até 1854, dois anos após a morte de seu criador.
Louis Braille faleceu em 1852, aos 43 anos, vítima de tuberculose. Ele foi sepultado em sua cidade natal, mas, em 1952, seus restos mortais foram transferidos para o Panteão de Paris, como reconhecimento de sua criação, que abriu portas e janelas para as pessoas cegas e/ou com baixa visão de todo o mundo.

Braille no Mundo
Em 2019, a ONU, em parceria com a Organização Mundial da Saúde – OMS, estimou que cerca de 2,2 bilhões de pessoas convivem com deficiência visual ou cegueira.
Graças ao legado de seu criador, o sistema braille é usado por milhões de pessoas cegas ou com baixa visão, que assim podem ler e escrever em diferentes idiomas, bem como acessar às mais diversas disciplinas, como matemática, química, música e outras áreas do conhecimento.
Este revolucionário sistema também pode ser usado com o auxílio das novas tecnologias, como máquinas datilográficas Braille, impressoras Braille, linhas Braille, scanners, bem como por softwares que transformam texto para áudio, no computador ou no celular, sendo importante afirmar que, muito embora o áudio auxilie a pessoa cega e/ou com baixa visão no seu acesso à informação, nem de longe poderá substituir o sistema Braille, por ser este o único meio de leitura direta existente.

O Braille no Brasil e em Pernambuco
Em 1854, o Imperador D. Pedro II, atendendo a uma reivindicação do jovem cego José Álvares de Azevedo, cria, em 17 de setembro, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que posteriormente passou a ser denominado Instituto Benjamin Constant.
Segundo o levantamento feito pelo IBGE através do Censo de 2010, havia no Brasil cerca de 6 milhões e 500 mil pessoas com cegueira e/ou baixa visão, o que demonstra a imperiosa necessidade de se aprimorar políticas públicas destinadas a incluir este segmento na sociedade.
Em Pernambuco, foi a vez do jovem cego Antonio Pessôa de Queiroz, ex-aluno do Instituto Benjamin Constant, fundar, em parceria com a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em 12 de março de 1909, o Instituto de Cegos do Recife, que hoje tem o nome de seu fundador. Por dificuldades financeiras, o educandário fechou suas portas em 1927, mas, foi reaberto em 1935, em seu atual endereço, na Rua Guilherme Pinto, 146, Graças.

Tiflologia
É a ciência que estuda os aspectos referentes à cegueira e à baixa visão. Em Pernambuco, começou a ser difundida a partir de 1956 pelo Professor cego Júlio do Carmo (1905-1975), por iniciativa da Secretaria de Educação. A partir de 2005, o Curso de Tiflologia passou a ser oferecido pela Associação Pernambucana de Cegos – APEC, e a partir de 2007, pelo Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual – CAP/PE. Em 2012, a Tiflologia passou a ser reconhecida pelo Governo do Estado, através da Lei nº 14.789, que instituiu a Política Estadual de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
Assim sendo, pode-se afirmar que o Sistema Braille hoje é ensinado e difundido em todo o Estado, principalmente através do próprio Instituto, da Associação Pernambucana de Cegos – APEC, fundada em 05 de fevereiro de 1983, e do CAP/PE, cujas atividades se iniciaram em 2002, e que atualmente funciona no prédio do Centro de Atendimento Educacional Especializado do Recife – CAEER, vinculado à Secretaria de Educação.

Antônio Muniz é cego, Professor Braillista do CAP/PE, membro da Comissão Brasileira do Braille, órgão de Assessoramento ao Ministério da Educação, e integra a Diretoria Executiva da APEC.


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