Sobre as interseccionalidades: Mulher, Negra, cega, essa sou eu!(por gISLANA mONTE vALE)


Tempo de leitura: 4 minutos

Raça, você já pensou sobre isso?

Durante a última década essa questão tem atravessado a minha vida .

Sempre me declaro como uma mulher negra  e tenho que explicar

todas as vezes o que isso  significa. Nasci numa casa de muitos pertencimentos,

mãe branca de olhos claros, pai preto de pele escura descendente de negros

Avó  indígena. Vivi a maior parte da minha vida com muitas pessoas querendo

me fazer acreditar que sou branca, uma vez que minha pele segundo o censo

(IBGE) é parda. Nunca aceitei muito bem essa história de ser parda,

pardo é papel de embrulhar coisas na mercearia e não pele de gente,

penso sempre sobre isso .

Um dia entendi, sem mais nem menos ,me encontrei com meu

pertencimento, descobri que os tambores de África tocam dentro de mim e me

fazem sentir viva  tanto quanto, nunca  havia me  sentido antes .

Descobri que o povo bantu habitou  o Cearáa terra onde nasci..

Descobri  que eram artesãos conheciam as ferramentas e técnicas agrícolas.

Soube desde então quem eram os meus e de

que lugar eu tinha vindo . Descobri que eram guerreiros  audaciosos e

nunca mais pude me pensar diferente disso .

Um dia um amigo ogã da religião  de Matriz africana, me disse sem preâmbulos ,você é

uma mulher de” Iansã” . perguntei o que isso significava e ele disse que breve eu

descobriria. Dizer o que penso falar as vezes que não devo e depois

arcar com  as consequências e os desfechos do que falo e penso .  É esse o significado.

desse lugar, encarnado em mim, num mundo racista, machista, capacitista, preconceituoso…

Nesses tempos dificeis  sei quem so, e isso ao longo da vida tem me

dado ou custado coisas preciosas

hoje a realidade de ser mulher e negra se junta a dimensão da deficiência.

Parece que com correr dos dias, dos anos, a vida nunca fica mais fácil. mas

quem sou, o que sou e como me reconheço me permite viver a dimensão única

da minha própria transcendência.

Minha ancestralidade permeia então a mulher que sou, os olhos que

fisicamente não uso estão em mim apropriados da minha essência e iluminados

pelo meu sagrado . é desse lugar que falo e que me autoriza ser quem sou.

Hoje, quando vou aos lugares ,e souou a única mulher que se declara negra

percebo o mundo em que vivemos ,e sei perfeitamente, qual é o meu lugar de

fala. Compreendo dentre tantas coisas quem vive e fala através da minha

voz. Eu, mulher, negra, cega, pesquisadora, trabalhadora, ativista de

movimento social, mãe,amiga,, apaixonada pela vida, amante dos meus

amores,leal e corajosa, frágil, insegura, medrosa, porque não?  Trago em mim as marcas das muitas vidas que

vivo, das escolhas que faço e de todos os destinos da minha trajetória.

Sempre vivendo no presente, que ao que parece é o único lugar hoje em

que podemos estar; Nunca esquecendo das mulheres que me precederam, a

quem peço licença; As que virão depois de mim a quem saúdo.

Nós mulheres constituídas pelo tempo e pela ancestralidade, movedoras da

roda sagrada.

 

RJ  Julho 2023

 

 

Sobre as interseccionalidades:

Mulher, Negra, cega, essa sou eu!

 

aUTORA: gISLANA mONTE vALE

Mulher cega negra escritora, poeta, pesquisadora;

Doutoranda em Psicologia – UFF;

Mestre em Avaliação de Políticas Públicas – UFC

Coordenadora  Executiva Nacional MBMC;

Consultora em Acessibilidade Cultural  e Políticas Públicas;

 

Raça você já pensou sobre isso?

Durante a última década essa questão tem atravessado a minha vida .

Sempre me declaro como uma mulher negra  e tenho que explicar

todas as vezes o que isso  significa. Nasci numa casa de muitos pertencimentos,,

mãe branca de olhos claros, pai preto de pele escura descendente de negros

Avó  indígena..Vivi a maior parte da minha vida com muitas pessoas querendo

me fazer acreditar que sou branca, uma vez que minha pele segundo o censo

(IBGE) é parda. Nunca aceitei muito bem essa história de ser parda,

pardo é papel de embrulhar coisas na mercearia e não pele de gente,

penso sempre sobre isso .

Um dia entendi, sem mais nem menos ,me encontrei com meu

pertencimento, descobri que os tambores de África tocam dentro de mim e me

fazem sentir viva  tanto quanto, nunca  havia me  sentido antes .

Descobri que o povo bantu habitou  o Cearáa terra onde nasci..

Descobri  que eram artesãos conheciam as ferramentas e técnicas agrícolas.

Soube desde então quem eram os meus e de

que lugar eu tinha vindo . Descobri que eram guerreiros  audaciosos e

nunca mais pude me pensar diferente disso .

Um dia um amigo ogã da religião  de Matriz africana, me disse sem preâmbulos ,você é

uma mulher de” Iansã” . perguntei o que isso significava e ele disse que breve eu

descobriria. Dizer o que penso efalar as vezes que não devo e depois

arcar com  as consequências e os desfechos do que falo e penso .  É esse o significado.

desse lugar, encarnado em mim, num mundo racista, machista, capacitista, preconceituoso…

Nesses tempos dificeis  sei quem so, e isso ao longo da vida tem me

dado ou custado coisas preciosas

hoje a realidade de ser mulher e negra se junta a dimensão da deficiência.

Parece que com correr dos dias, dos anos, a vida nunca fica mais fácil. mas

quem sou, o que sou e como me reconheço me permite viver a dimensão única

da minha própria transcendência.

Minha ancestralidade permeia então a mulher que sou, os olhos que

fisicamente não uso estão em mim apropriados da minha essência e iluminados

pelo meu sagrado . é desse lugar que falo e que me autoriza ser quem sou.

Hoje, quando vou aos lugares ,e souou a única mulher que se declara negra

percebo o mundo em que vivemos ,e sei perfeitamente, qual é o meu lugar de

fala. Compreendo dentre tantas coisas quem vive e fala através da minha

voz. Eu, mulher, negra, cega, pesquisadora, trabalhadora, ativista de

movimento social, mãe,amiga,, apaixonada pela vida, amante dos meus

amores,leal e corajosa, frágil, insegura, medrosa, porque não?  Trago em mim as marcas das muitas vidas que

vivo, das escolhas que faço e de todos os destinos da minha trajetória.

Sempre vivendo no presente, que ao que parece é o único lugar hoje em

que podemos estar; Nunca esquecendo das mulheres que me precederam, a

quem peço licença; As que virão depois de mim a quem saúdo.

Nós mulheres constituídas pelo tempo e pela ancestralidade, movedoras da

roda sagrada.

 

gISLANA mONTE vALE é  Mulher cega negra escritora, poeta, pesquisadora;

Doutoranda em Psicologia – UFF;

Mestre em Avaliação de Políticas Públicas – UFC

Coordenadora  Executiva Nacionaldo Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas, MBMC.

Consultora em Acessibilidade Cultural  e Políticas Públicas;

 

 


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