Dia Das Mães – O Que Queremos Com Esta Data? (Por Lêda Spelta)


Tempo de leitura: 2 minutos

No segundo domingo de maio, comemoramos no Brasil e em vários outros países o dia das mães. Ao escrever estas palavras, vai desfilando pela minha mente uma passeata bem especial, composta pelas muitas mães com as quais tive a oportunidade de conviver: a minha própria mãe, que nos deixou há anos mas é ainda tão presente; as mães da minha família de classe média baixa dos subúrbios do Rio de Janeiro; as mães das minhas coleguinhas de infância; as dos meus amigos; enfim, as minhas próprias amigas e colegas de trabalho que se tornavam mães. E foi, talvez, com este último grupo que mais aprendi sobre os prodígios dos quais a maternidade é capaz. Absolutamente não é verdade que as mães têm uma dupla jornada por realizarem o trabalho doméstico nas horas que deveriam ser de descanso e lazer, após venderem sua força de trabalho. Esta jornada é, no mínimo, tripla. Mãe é mãe 24 horas: enquanto trabalha, enquanto namora, enquanto passeia, enquanto dorme… Mãe não desliga nunca!

 

Mas o que muita gente não sabe é que o estabelecimento de uma data para esta comemoração está intimamente ligado ao movimento feminista. Nos Estados Unidos, a comemoração teve início em 1905 e foi proposta por Anna Jarvis em homenagem à sua mãe, a feminista Ann Reeves Jarvis, que incentivava as mulheres a participar da política e a promover a paz. No Brasil, a solicitação de oficialização da data partiu da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, com base em uma moção aprovada no Segundo Congresso Internacional Feminista. A data foi oficializada pelo decreto nº 21.366, assinado pelo presidente Getúlio Vargas em 5 de maio de 1932, mesmo ano da conquista do direito ao voto e à candidatura política pelas mulheres. Durante os anos da ditadura militar esta data ganhou popularidade, mas seu significado original ficou esquecido, dando lugar a mais um evento consumista do nosso calendário.

 

Neste ponto, uma pergunta se impõe: o que queremos fazer desta data? Isto mesmo que estamos fazendo? Ou será que, muito além de jóias, perfumes e flores, queremos oferecer a todas as mães o nosso apoio, solidariedade, carinho e respeito? Ah! Respeito! Esta especiaria tão rara atualmente! Respeito às mães que vendem sua força de trabalho e dão conta de conversar com o chefe, o cliente, a babá e a professora, tudo ao mesmo tempo e com grande eficiência. Respeito pelas que trabalham exclusivamente na criação dos filhos, seja por opção ou falta de opção. Respeito pelas mães que adotam bebês tão pequeninos e frágeis, que requerem tanto cuidado e dedicação; e pelas que adotam crianças maiores, com hábitos e valores diferentes. Respeito pelas mães com deficiência, negligenciadas pelas políticas públicas e tão discriminadas pela sociedade, a ponto de serem frequentemente desqualificadas e desautorizadas perante seus filhos. Enfim, respeito pelos limites e deficiências de quaisquer mães, sejam ou não pessoas com deficiência, pois somos todos seres humanos; aliás, como tais, temos a capacidade de refletir e fazer diferente. Ainda bem!

 

Lêda Lucia Spelta é psicóloga, analista de sistemas, consultora em acessibilidade digital e editora do site do CNCLP.


16 respostas para “Dia Das Mães – O Que Queremos Com Esta Data? (Por Lêda Spelta)”

  1. Parabéns Leda.
    Em função de ser um dia de consumo muitos esquecem os motivos da data e querem ignorar as conquistas, avanços e a valorização da Maternidade, especialmente das mães pobres.
    Abraços a todas as mães, especialmente pobres, que lutam diariamente.

    • Verdade, Cristina! Grata por trazer este aspecto da maternidade. Quantas vezes as mães sacrificam sua própria saúde, conforto e bem-estar, em prol da saúde dos filhos!

  2. Muito bom artigo, amiga! Muito obrigada! Todas as mães precisam ser respeitadas e reconhecidas, mesmo tendo errado. Sempre fazemos o nosso melhor, depois refletindo, vamos aprendendo a fazer um melhor mais melhor ainda!!!

  3. Que texto valioso, Ledinha! Muito necessário! Gostaria de compartilhar, posso?
    Por favor,conte mais sobre esse site em que vc está trabalhando.
    Um grande abraço.

    • Querida Zilda, este é o site do nosso Comitê Nacional Cegos com Lula Presidente. É um site recente, mas o Comitê tem uma história muito linda, originada num grupo de cegos e não cegos que se formou quando o nosso presidente ainda estava preso em Curitiba. Visite nossa página principal e, a partir dela, você conhecerá mais um pouco da nossa trajetória. Volte sempre!

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