Acessibilidade: Essa Palavrinha e os Riscos Reais do Cotidiano


Tempo de leitura: 3 minutos

Marcos Ricieri

Hoje em dia, nos deparamos a todo momento com o termo “acessibilidade”. Em rodas de amigos, noticiários impressos em revistas, jornais ou meios eletrônicos, nas propagandas de grandes marcas e em anúncios de todos os gêneros, a palavrinha, ou melhor, o palavrão, já que a polissílaba em questão, conta com sete partes, está lá de forma emblemática e garantindo o sucesso daquilo que se quer comunicar. Afinal, vivemos agora a hera do politicamente correto, ecologicamente correto e devemos então viver também a hera do acessivelmente correto, pois do contrário esses setores seriam taxados de ultrapassados, ignorantes e, porque não dizer sem alma, sem sensibilidade para com aqueles que necessitam de ajuda dos ditos perfeitos por não terem uma deficiência “aparente”.

– Mas será que essas pessoas que vivem estampando a questão acessibilidade sabem o que isso significa?
– Será que uma pessoa que não sofre de uma cegueira permanente ou de uma baixa visão considerável, compreende a dificuldade que passamos em nosso dia a dia?

Somente vou ficar nessas questões, por não me sentir capaz o suficiente para fazer perguntas que um cadeirante ou um tetraplégico fariam, por não me sentir capacitado em formular indagações que uma pessoa surda faria, e por não conseguir me colocar no lugar de um deficiente intelectual, seja qual for o tipo, justamente por não ter essas deficiências. Portanto, creio que posso concluir que da mesma forma a pessoa que possui “a vista boa”, como dizem aqui pelas cidades do interior, também não é suficientemente capaz de definir qual e o quanto de acessibilidade eu precisaria para ter minha independência, seja onde for. Daí advém a famosa frase:
“NADA SOBRE NÓS SEM NÓS”.

Eu gostaria tanto de perceber essa manifestação toda sobre acessibilidade transformada em realidade nas calçadas por onde eu ando com minha bengala! Mas o que consigo reparar são apenas lixeiras fixadas em muros, onde vivo esbarrando os ombros; raízes de árvores estourando o piso que se tornou saliente e perigoso não só para mim; carros estacionados sobre essa calçada que preciso passar, me obrigando a desviar o caminho para a rua ou avenida, me expondo a um atropelamento; piso podo-tátil, que raramente existe, me levando ao encontro de árvores, postes, terminando sem chegar em nenhum lugar, e já vi até darem na lateral de uma banca de jornal; sem contar com um número infinito de degraus que nos sobressaltam a todo momento, somente porque cada morador quer deixar sua calçada diferente da calçada do vizinho ou beneficiar a entrada do seu carro de forma bastante suave e leve.

Gostaria de contar com essa acessibilidade toda quando estou em um restaurante que não tem um dispositivo tão simples que se denominou de Chama-Garçom na minha mesa, me forçando assim, esperar a boa vontade do funcionário do estabelecimento para me perguntar se desejo alguma coisa a mais.

Seria tão bom que eu com a minha cegueira pudesse entrar em qualquer site, público ou não, em qualquer aplicativo, público ou não, seja para dispositivos equipados com sistema Androide, IOS ou Windows, só para citar os principais, e conseguisse navegar de forma totalmente independente como qualquer outra pessoa que enxerga consegue fazer tão autonomamente…

Concordo que muita coisa melhorou com o avanço da tecnologia. Muito do que fazemos hoje não seria possível a 20 anos atrás. Mas nós que temos a deficiência, seja qual for, devemos por obrigação, lutarmos sempre para que essa evolução não se paralise, não fique nas mãos de quem não tem condições de julgar o que necessitamos, justamente por não terem a necessidade de que somente nós sabemos qual é, por sentirmos em nosso cotidiano.

Sei que deixei de falar sobre muita coisa. Mas o assunto é muito amplo e complexo e caso fosse expor todas as nuances da acessibilidade, acabaria escrevendo um livro, talvez com dois ou três volumes. E na hera do consumo da informação imediata, breve e superficial nós não temos tanto tempo para consumirmos conteúdo mais elaborado, certo? Não sei se está certo. Penso que não, mas isso é assunto para uma outra vez…

Marcos Ricieri é analista de Sistemas e membro do CNCLP.


8 respostas para “Acessibilidade: Essa Palavrinha e os Riscos Reais do Cotidiano”

  1. acessibilidade tem que virar política pública de forma transversal, intersexional! tem que ser direito cumprido! parabéns pelo texto!

  2. Muito bom Marcão! Acessibilidade é um vírus que precisamos espalhar, pois ainda tem muita coisa a ser feita.
    Parabéns por abordar o tema.

    • Grande Sidnei! Obrigado pela leitura! Creio que vamos precisar sempre lembrar desse assunto para sociedade, e cabe a nós, pessoas com deficiência essa lembrança constante: “nada sobre nós sem nós”,!

  3. Marcos Riciere, Parabéns pelo texto maravilhoso e real que vc escreveu.
    Tudo é uma realidade que vivemos, temos que mostrar constantemente para que uma pessoa que esteja exercendo um cargo público possa tentar reparar tudo isso.Alem dos deficientes os idosos que já estão com dificuldade em andar levam tombos sérios nestas calçadas mal cuidadas.
    Meu Amigo faça mais destes textos.Abracos.

    • Olá Marly! Obrigado por ter lido! Realmente precisamos que muitos de nós falemos sobre essas dificuldades. Como você bem disse, também afeta aos idosos, e nossa população está envelhecendo. Grande abraço!

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