Hoje, dia 05 de junho comemoramos o dia mundial do meio-ambiente. E essa comemoração vem em meio a tantas discrepâncias e excrescências que vemos na agressão velada e também nas agressões notórias do dia a dia contra nossa natureza que sobrevive de teimosa. Na verdade, não sei se devemos comemorar esse dia, ou devemos tornar um dia de reflexão sobre o que cada um de nós fazemos para preservação do bioma e por consequência a continuidade de nossa espécie humana.

Em meio a leis contrárias ao meio-ambiente que vêm sendo votadas nesse congresso que elegemos de maioria direitista, egoísta e que pensa exclusivamente em seus direitos próprios ou de grupos que eles representam, nos últimos dias nos deparamos com a discussão do Marco Temporal. Esta lei que determina que os indígenas que não comprovarem a ocupação das terras antes de 5 de outubro de 1988, data da promulgação da nossa atual constituição, poderão ser desalojados de seu quinhão de chão de onde tiram seu sustento e o sustento de sua família. E ai do indígena que se manifestar contra ou protestar pelo seu direito! Corre um grande risco de receber somente “a parte que lhe cabe nesse latifúndio, a terra que queria ver dividida”, como diria João Cabral de Melo Neto na obra Morte e Vida Severina. E como vão comprovar uma coisa que está comprovada há mais de quinhentos anos? Já que quando os brancos chegaram por aqui, existiam os povos indígenas nessas terras, ou estou enganado? Ou então não aprendi nada daqueles livrinhos de história bem pouco atrativos do meu período escolar.

Como dado muito importante, nos últimos 30 anos a floresta amazônica e a mata atlântica foram devastadas continuamente para expansão agrícola e pecuária, ao passo que em reservas indígenas no mesmo período se derrubou 1,2% de árvores nativas. Quem será que cuida melhor da sustentabilidade ambiental? As mudanças climáticas vêm sendo notadas por todos nós que temos o mínimo de massa encefálica útil. Até quando vamos continuar nessa devastação desenfreada atrás de acumularmos riquezas? Num futuro não muito distante, penso que esses fazendeiros e empresários inconscientes ou conscientes, mas gananciosos e irresponsáveis, vão precisar mesmo desse dinheiro todo que estão juntando para comprar tanques de oxigênio a fim de respirarem, já que apodreceram o ar que ainda temos de graça. E nós reles mortais vamos respirar o quê?

A bancada ruralista do congresso vem “passando a boiada” por cima de florestas, mananciais, reservas e acabando com a fauna, a flora e o que estiver pela frente, visando somente o lucro, através da expansão de terras para criação de seu gado e plantação de sua soja e outros cereais lucrativos, por meio de uma mão-de-obra barata de pessoas que por falta de oportunidade não possuem o mínimo de instrução, sendo facilmente tangidas e exploradas em sua inocência. O coronelismo saiu das fazendas e se instalou, principalmente no poder legislativo. O que será que mudou tanto, se compararmos com a época da escravidão? A meu ver, quase nada. Continuamos explorando seres humanos, independente da cor da pele, continuamos expulsando os povos originários de suas terras e pior, agora será de forma legal, ou como costumam dizer os excelentíssimos e meritíssimos congressistas e magistrados, “na forma da lei”.

O Brasil é o país que possui a maior reserva de água doce do mundo e a maior diversidade de fauna e flora. O mundo todo tem os olhos voltados às nossas florestas, não por preocupação com o meio-ambiente ou por estarem preocupados com a iminente falta de água potável para o consumo; a verdadeira intensão é o domínio e exploração dessas áreas. Inclusive já ouvimos falas que o Brasil não sabe ou não tem condições de cuidar de suas reservas naturais! Portanto, com a elaboração e votação dessas leis que vêm por aí através de nosso congresso “executivo”, não errei não, atualmente o congresso nacional tem agido como se fosse o poder executivo mesmo e agora sem nenhuma preocupação em velar seus atos insanos e bestializados, só reforça a péssima imagem ambiental que o país criou, principalmente nos últimos 6 anos.

Se nós brasileiros não nos conscientizarmos da importância de nosso bioma para nós e para o mundo, em breve a vida na terra se tornará tão inóspita que teremos que emigrar para outros planetas, quem sabe menos nocivos. O problema é que: será que teremos dinheiro para essa emigração? Com certeza não! Então, penso que seria melhor cada um de nós fazer nossa parte para conservação do nosso planetinha azul antes que ele se torne cinza visto do espaço por aqueles que puderem pagar por sua emigração. E pior, serão aqueles que sugaram a terra e se enriqueceram com ela. Isso é justo? Não é, mas quem disse que o mundo é justo? Quem disse que a maioria das pessoas se importa com o sofrimento das outras? E por fim, quem disse que a maioria do legislativo legisla pelo povo e para o povo pelo o qual foram eleitos?

MARCOS RICIERI É ANALISTA DE SISTEMAS E EDITOR DO CNCLP