(Por Joana Belarmino)

Acabou na última sexta-feira a novela Travessia, e, com ela, a #Rede Globo
encerrou mais um capítulo da completa falta de #audiodescrição nas suas novelas em tv aberta.
Pessoas cegas como eu, que assistiram o final da novela, não entenderam nada da cena pitoresca na qual o advogado Istênio entregou o anel de noivado à delegada Helô, tampouco captaram qualquer ato da cena final, onde o belo samba interpretado por Simone funcionava como música de fundo para a festa de casamento da personagem Brisa, interpretada por Luci Alves.
Essa novela, aliás, foi pródiga em cenas mudas, onde os consumidores cegos apenas desfrutavam da trilha sonora, com uma frustração danada, pois nesses momentos não se sentiam incluídos, fazendo parte, “vendo” o que todo mundo via. Nesses momentos, que foram muitos durante a trama de #Travessia”, aconteciam verdadeiros apagões, buracos negros na compreensão do enredo, fazendo com que os telespectadores com deficiência visual dessem um imenso selo de fracasso para a #Globo, no tema #Acessibilidade.|
A luta pela #acessibilidade em conteúdos televisivos no Brasil tem mais de duas décadas, e tem sido marcada por dificuldades, falta de interesse e empatia por parte dos produtores desses conteúdos, ao lado de pequenas conquistas a serem celebradas. Na novela #Todas as Flores, exibida no canal #Globoplay, a comunidade com deficiência visual ganhou a #audiodescrição e o projeto vem empregando mão de obra especializada de profissionais cegos. Mas, pessoas cegas reclamam da falta de acessibilidade do app, e, a grande maioria delas não consegue pagar a sua assinatura.
Por força do marco geral da #Acessibilidade, a #Globo tem distribuído outros conteúdos com #audiodescrição, sobretudo filmes, mas, pessoas cegas têm dificuldade em acessar o recurso em seus aparelhos de tv, visto que somente os aparelhos mais caros do mercado possuem as ferramentas de acesso, e são poucas as marcas da indústria de eletrônicos preocupadas com o tema #acessibilidade.
Uma nova novela começa na segunda-feira, e, lamentavelmente, veremos na prática o desastre de assistirmos a mais um projeto em cuja cadeia produtiva não se pensou em acessibilidade. Um projeto que já nasceu como a maioria dos projetos #Globo: invisibilizando pessoas com deficiência, que de cara são dispensadas, seja como atores/protagonistas, seja como telespectadores.
Joana Belarmino é jornalista e integra o Comitê Nacional Cegos com Lula Presidente. Blog pessoal:
www.barradosnobraille.net